Cheguei a esta idade e ainda não sei o que quero fazer. Não é uma crise de adolescência atrasada. É só pressão da sociedade (e de mim própria).
No último fim-de-semana, numa viagem de carro entre Ericeira e Lisboa, discutia com o meu irmão mais novo a pressão que existe em cumprirmos um certo caminho. Há sempre algum passo esperado que tomemos. Completar o ensino básico, secundário, universitário e, entre estas fases, saber sempre qual o próximo passo. Numa fase posterior lá se espera que descubramos a nossa vocação e profissão futura. Se não o fazemos, alguém nos bate à porta a relembrar que o temos de fazer.
É natural que nos questionem, em fases finais e de mudança, “o que vais fazer a seguir?”. Mas será que a pressão que nos colocam para termos a nossa vida toda planeada é justo? Não experimentamos. Não realizamos. Não materializamos. Podemos adivinhar o que queremos seguir para o resto das nossas vidas, sem nunca termos tido experiência disso?
Chego a esta idade e oiço algumas vezes “já devias saber o que queres…”. It is not fair. Eu posso ter alguns gostos particulares, interesses, mas… eu nunca estive no terreno! Esta pressão social influencia-nos, por mais escudos que tenhamos. Questionamo-nos vezes sem conta e, pior, começamos a duvidar de nós. E da nossa missão na Terra, na fase mais pessimista e hiperbólica da coisa. Aqui somos o nosso pior inimigo. Duvidando de nós… não há muito que reste para darmos a volta.
Eu continuo à procura do meu caminho final, à espera que o exista. Maybe not. E talvez seja mesmo assim a vida. Enquanto isso, vou continuar a anotar cada detalhe e descoberta de mim. A experimentar mais e mais. A verdade é que a experiência dá-nos ferramentas para dizermos “gostei” ou “não gostei. Já dizia a “Ana” mais velha lá de casa… “sem experimentares, não sabes!”. Vou seguir este sábio conselho 🌼
Ana de Melo Matos 