
Depois de quatro meses de espera por uma resposta à minha candidatura a um visto de trabalho, bastaram 10 segundos para ver o meu mundo a desmoronar-se. Aquele e-mail safado que aparece no inesperado. Li as primeiras três linhas e bastou-me. Chamei ajuda. “Preciso de um abraço, Jack.” Ele veio. Abraçou-me por tempo interminável. O meu mundo parou de girar. O ponteiro do relógio parou. O meu coração caiu sobre o seu peito. Ganhei coragem e disse “o meu visto foi recusado.”
Nos dias póstumos a este morrer de esperança, festejei a possibilidade de poder ter um novo recomeço, mergulhei numa tristeza profunda, tentei cobrir emoções para conseguir sobreviver a 11 horas de trabalho seguidas, evitei responder mensagens ou chamadas com a temível pergunta: já sabes alguma coisa?, vivi cada momento como se fosse o último, despedi-me de cada tarefa como se fosse a última vez que iria ter o prazer de a fazer; encostei-me numa das bancadas da cozinha onde passei os últimos 7 meses a olhar no vazio, a reviver memórias, a sorrir orgulhosamente percebendo o quanto evoluí. Dei os mais longos abraços e beijos aos amigos e família que tive a sorte de encontrar, chorei. “Agora és oficialmente uma Chef! Tens as tuas próprias facas, consegues correr o serviço de almoço sozinha exemplarmente, tens a paixão necessária para seres a melhor. Não desistas”. Derramei-me em lágrimas novamente. Nos últimos meses tive a sorte de aprender com Chefs experientes que me treinaram todos os dias para dar o melhor de mim. Ao final de cada dia nunca faltou um abraço e um “obrigado pelo dia de hoje, Chef Ana”. As lágrimas correm-me pelo rosto ao sentir dentro de mim cada gesto e agradecimentos recebidos. Nos últimos dias os amigos, que se tornaram a minha família longe do meu país, brindaram à minha vida partilhada com eles. Tive os melhores abraços, dos mais sentidos, dos mais queridos e significantes. Um obrigado nunca irá chegar para estes corações.
Nem todas as histórias de amor têm finais felizes. Estou a viver uma crise de amor que sei que um dia irá passar. Num até já, ou num vou mas venho melhor que nunca. Mais do que me roubarem a oportunidade de continuar a trabalhar, roubaram-me os amigos e a família por tempo indeterminado. Roubaram-me a esperança. Roubaram-me um chão e uma vida.
Demorei uma semana a processar que o meu sonho de permanecer na Nova Zelândia não poderia ter um final feliz, e que nada dependia de mim. De esperança renovada, porque tudo na minha vida se deve ao sonho e à esperança, sei que tudo está a acontecer por um motivo. E assim vou continuando. Com mais 2 meses no meu país de sonho, vou retomar a estrada. Aproveitar cada brisa neozelandesa, cada fim de dia, cada caminhada por esta natureza mágica, cada encontro, cada abraço aos amigos que fizeram desta minha jornada os melhores anos da minha vida. E finalmente, preparar-me para regressar ao meu Portugal. Abraçar os meus mais que tudo. Começar novamente do zero, sabendo que o zero de há 14 meses não é o meu zero de hoje. Sorrio ao escrever isto.
Até breve, meus mais que tudo,
Mami, Papi, Diogo e Madzi.