Lisboa, Maio 2019 | @anamelomatos
Mais do que preparar todos os gadgets, roupas adequadas e produtos de higiene e de SOS a levar para o meu gap year na Nova Zelândia (lê a primeira parte do artigo aqui), a preparação mental para esta viagem foi decisiva e é, sem dúvida, o mais importante para te fazer arrancar com os teus sonhos.
Das primeiras reações que têm para comigo quando digo que vou estar fora de Portugal um ano é: “Grande maluca! Como vais conseguir? E não voltas para o Natal? Ah, mas os teus pais vão lá ver-te!”. A verdade é… não pensei muito nisso até me fazerem pensar nisso!
Quando somos crianças, com 2 e 3 anos, não temos medo de nada. Isto porque não sabemos as consequências dos nossos atos. Um pouco mais crescidos, mas ainda crianças, começamos a ter medo do desconhecido. Do típico quarto escuro, dos fantasmas, de que a mãe não chegue do trabalho ou nos proteja. Aí, porque começamos a ganhar percepção da realidade, construímos memórias e tudo o que esteja fora do nosso raio de conhecimento, é estranho e causa amedrontamento. Na adolescência, queremos viver a irreverência e temos vergonha de admitir que temos medo. Fazemos, pensando nas consequências, mas não encaramos essas consequências como atingíveis ou possíveis de acontecer. Só acontece aos outros e achamo-nos super-heróis sem capa (ou fazêmo-lo transparecer). Mas medo existe sempre. E se não for defrontado e trabalhado, vai-se instalando meticulosamente nas nossas amígdalas e hipocampo. Na idade adulta, bem, o medo já está muito instalado no nosso cérebro e quando lhe é apresentado um sinal de alerta de perigo ou mudança, o nosso córtex sensorial interpreta esses sinais e não deixa que desenvolvamos uma forma de transposição assim tão simples de superar esse medo com atitude positiva.
Mas como contornar este medo do desconhecido? E como conseguimos transpor esses medos e barreiras? Largar o trabalho e ir à aventura? Qual é o momento certo para sairmos do nosso espaço de conforto? A resposta não poderia ser outra: houve o teu coração e age! Não fiques indiferente à tua intuição e vontade. Escuta o que a tua alma e essência te dizem, só tu tens o poder de a ouvir e interpretar. Depois, age! Não aceites o conformismo. Faz o que tiveres de fazer para silenciar o medo e vai à luta.
Quando simplesmente temos medo, não fazemos. A mente barulhenta bloqueia-nos a ação. Quando duvidamos, mas ainda assim queremos muito, o medo aparece recorrentemente, tentando imobilizar-nos, contudo, o nosso coração vai comandando as tropas interiores e leva-te a agir conforme a tua intuição.
Estar preparado psicologicamente para todas as consequências e mudanças que podem advir de uma viagem ou aventura na tua vida é a peça-chave para a confiança de que, sim, esta pode ser a viagem da tua vida! Com determinação, garra e muita vontade. Vamos por nós. Pela nossa força, pelo querer de superação e conhecimento mais do que nos é dado a ver todos os dias. Mais do que o medo nos bloqueia. E aí, o clique está feito. Não podes voltar atrás. Depois de colocares a chave na ignição, só tens de soltar a ação e desbravar tudo o que os teus pés têm sede de viver.
E agora perguntas-me: como preparei mentalmente e mais concretamente para esta viagem. Fiz um trabalho de mentalização que levou meses. Fui estudando e interpretando minha intuição. O journaling foi essencial para entender todos os meus sentimentos e pensamentos. Através deste trabalho diário entendi quais eram os meus motivos em fazer esta viagem até ao outro lado do mundo. Percebi, também, quais os medos que tinha de vencer e trabalhar. Quase sem me aperceber, dei o clique e coloquei em segundo ou terceiro plano todos os medos que tinha.
Lisboa, Maio 2019
Se vou ter saudades da família? Demasiadas. Se vou perder o crescimento dos que me são mais próximos? Vou. Ainda por cima, os pequenos crescem à velocidade da luz. Se corro o risco de não voltar a ver os que amo neste mundo? É provável e é o que mais me custa. Uma despedida sem segunda oportunidade. Se vou perder aquelas férias inesquecíveis com amigos?Também. Mas nada que muitas video chamadas não ajudem aproximar os corações. E se quando voltar não encontrar trabalho porque estive um ano parada? Eu nunca fui de desistir ou de baixar os braços, e hei-de contar todas as histórias que vivi durante um ano, que nunca um colega meu colocou no currículo porque esteve embrenhado num stress profundo em frente à secretária e sem aumento à vista.
Esta viagem é egoísta, mas num sentido tão positivo quanto enriquecedor (para mim e para os outros que me circundam). Trabalhar em mim. Superar-me. Desenrascar-me. Tornar-me cada vez mais independente. Conhecer novas fragilidades minhas e sentir-me orgulhosa por saber que as reconheci e, provavelmente, venci. No fundo, crescer. Quão mau pode ser evoluir? 😊
Que nunca o medo te impossibilite de fazer o que mais queres na vida. O medo, esse, é bagagem extra que só te faz pagar mais do que vale na vida.